Pesquisar na Internet é um "hobby" para mim. O "Google" é meu "site" favorito. De uma dessas pesquisas, em maio de 2006, nasceu o artigo seguinte.
RAMALHETE LATINO
"Última flor do Lácio, inculta e bela," (Olavo Bilac, poeta brasileiro)
O primeiro verso do soneto de Bilac refere-se à própria língua portuguesa. O poeta queixa-se das vicissitudes que enfrenta para dominar as peculiaridades da língua e toma o próprio Camões - no terceto final - como testemunha das dificuldades do idioma. Ele não sabia que as coisas iriam se complicar muito mais...
A última flor do Lácio não é mais a última. Foi polinizada por borboletas que voavam de flor em flor, e produziu frutos e sementes que se espalharam pelo mundo, gerando novas variedades sempre que encontravam solo fértil. Um destes foi a própria terra de Bilac - o Brasil. Aqui, os dialetos dos índios e dos africanos mesclaram-se com o doce acento lusitano e os falares dos imigrantes de todo o mundo para gerar uma nova variedade da flor - que está sendo chamada, nos meandros da Internet, sem a menor cerimónia, de Pt-BR!
Bem, saibam todos quantos isto lerem que o Pt-BR é uma língua viva, assim como as nossas irmãs d' África e doutras paragens. Sendo viva, tem sua identidade própria, que lhe é conferida em grau maior por quem a fala; em grau menor, por quem a escreve (como eu, aqui); e em último grau por quem acha que nela manda ou quer nela por mordaças.
Aqui, no Brasil, temos uma Academia que cuida desses assuntos. Justiça lhe seja feita: a ABL tenta evitar o autoritarismo didático, e procura acompanhar, com cautela e prudência, as modificações populares no falar cotidiano. Tirante tal ou qual tiro torto, os alvos principais de seus ataques são as expressões "da moda", que são como fogo de palha: espalham-se rapidamente, mas não têm conteúdo capaz de garantir-lhes a sobrevivência a longo prazo.
Passeando pela Internet (ou melhor, navegando(*)), notei no "site" da Wikipedia(**) um interesse inusitado a respeito de siglas e abreviaturas estrangeiras e da maneira correta de traduzi-las (ou representá-las) em português. Alguns exageros - aceitáveis no clima de liberdade indispensável à finalidade do "site" - me causaram espanto. Não me pude conter, e resolvi "botar lenha na fogueira". Ai vão algumas sugestões:
RADAR: DDDOR Detecção de Direção e Distância por Ondas de Rádio
LASER: ALEER Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação
RAM: MAA Memória de Acesso Aleatório
Para facilitar a pronúncia, poderíamos usar variantes fonéticas como DeDiDOR, ALEmER e MAceA
Parece ridículo, não? Bem, é mesmo. Mas. saindo do campo minado das siglas e abreviaturas, não estamos livres de sustos no ïerreno dos termos de origem estrangeira
Algumas "traduções" são simplesmente adaptações fonéticas. Para aproveitar o embalo, vejamos algumas dessas que poderiam sor "melhor" traduzidas por "acadêmicos" empedernidos (acredite, eles bem que tentaram):
Football Futebol Balípodo ou Ludopédio
Chauffeur Chofer Cinesíforo
Basketball Basquetebol Cestobola
Mais ridículo ainda? Aqui, no Brasil, sim. Mas "futebol", "chofer" e "basquetebol" já passaram da fase de "adaptação fonética" ou de "estrangeirismo" e se incorporaram ao nosso vocabulário, simplesmente por trazerem um conteúdo rico em significado para o nosso povo, que adotou esses termos rapidamente. Deixo ao critério do leitor que teve a paciência de me acompanhar até aqui a "tradução" dos seguintes termos e expressões:
Windsurf - Rollerball - Skate - Bungee Jump - Off Shore - Bodyboard - Quark -...
Note que os termos que se referem a atividades esportivas são maioria nas listas anteriores. São, na verdade, grãos de pólen trazidos de outras flores por abelhas e borboletas operosas e que poderão (ou não) provocar mutações genéticas em nosso idioma
Alguns acreditarão que esse processo pode provocar defeitos congênitos ou adquiridos ao nosso querido Pt-BR. Ledo engano! Nosso falar é forte e saudável, e saberá se defender com seus próprios anticorpos, preservando as mudanças que lhe trazem riqueza e rejeitando todas as demais. Mas esse processo demora um pouco, e expressões novas e estranhas sempre estarão circulando na mídia(***) e na boca do povo, enquanto são lentamente modificadas e absorvidas ou agonizam e perecem por falta de exercício. Já vimos como pululam neologismos esportivos em nossa terra.
Caros companheiros de fala e de idioma, descendentes e herdeiros da Flor do Lácio: deixem que o fruto gerado por essa flor espalhe suas sementes e se multiplique em dialetos e idiomas que retratem fielmente o modo de ser e de falar das gentes que os usam. Cuidem para que cada modo novo de falar e escrever seja uma pequena jóia acrescentada ao seu património cultural. E assim, a Flor do Lácio nunca será a última, mas sim a mãe de muitas outras flores.
NOTAS
(*) Navegando: adoro a expressão "navegar pela Internet". Ela transfere para uma atividade moderna e absorvente todo o significado que lhe foi conferido pelos grandes navegantes portugueses. Também o neologismo "surfar na Internet" carrega uma expressividade toda sua, em que o verbo e sua regência despertam a ideia de uma atividade mais leve, esportiva e voltada para o lazer.
(**) Wikipedia: Confira o "site" pt.wikipedia.org
(***) Mídia: pessoalmente, detesto esse termo, mas parece - ao menos por agora - que esse grão de pólen vai vingar. De fato, a língua se enriquece, pois não temos outra palavra que, com a mesma concisão, contenha todo o significado dessa.
REFORMA ORTOGRÁFICA
Gosto e não gosto. Valeu a queda do trema, pelo menos. Aqueles dois pontinhos não serviam pra nada, mesmo.
Mas pretendo continuar grafando minhas idéias e medéias como sempre. Quanto ao resto, vamos dar tempo ao tempo...
RAMALHETE LATINO
"Última flor do Lácio, inculta e bela," (Olavo Bilac, poeta brasileiro)
O primeiro verso do soneto de Bilac refere-se à própria língua portuguesa. O poeta queixa-se das vicissitudes que enfrenta para dominar as peculiaridades da língua e toma o próprio Camões - no terceto final - como testemunha das dificuldades do idioma. Ele não sabia que as coisas iriam se complicar muito mais...
A última flor do Lácio não é mais a última. Foi polinizada por borboletas que voavam de flor em flor, e produziu frutos e sementes que se espalharam pelo mundo, gerando novas variedades sempre que encontravam solo fértil. Um destes foi a própria terra de Bilac - o Brasil. Aqui, os dialetos dos índios e dos africanos mesclaram-se com o doce acento lusitano e os falares dos imigrantes de todo o mundo para gerar uma nova variedade da flor - que está sendo chamada, nos meandros da Internet, sem a menor cerimónia, de Pt-BR!
Bem, saibam todos quantos isto lerem que o Pt-BR é uma língua viva, assim como as nossas irmãs d' África e doutras paragens. Sendo viva, tem sua identidade própria, que lhe é conferida em grau maior por quem a fala; em grau menor, por quem a escreve (como eu, aqui); e em último grau por quem acha que nela manda ou quer nela por mordaças.
Aqui, no Brasil, temos uma Academia que cuida desses assuntos. Justiça lhe seja feita: a ABL tenta evitar o autoritarismo didático, e procura acompanhar, com cautela e prudência, as modificações populares no falar cotidiano. Tirante tal ou qual tiro torto, os alvos principais de seus ataques são as expressões "da moda", que são como fogo de palha: espalham-se rapidamente, mas não têm conteúdo capaz de garantir-lhes a sobrevivência a longo prazo.
Passeando pela Internet (ou melhor, navegando(*)), notei no "site" da Wikipedia(**) um interesse inusitado a respeito de siglas e abreviaturas estrangeiras e da maneira correta de traduzi-las (ou representá-las) em português. Alguns exageros - aceitáveis no clima de liberdade indispensável à finalidade do "site" - me causaram espanto. Não me pude conter, e resolvi "botar lenha na fogueira". Ai vão algumas sugestões:
RADAR: DDDOR Detecção de Direção e Distância por Ondas de Rádio
LASER: ALEER Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação
RAM: MAA Memória de Acesso Aleatório
Para facilitar a pronúncia, poderíamos usar variantes fonéticas como DeDiDOR, ALEmER e MAceA
Parece ridículo, não? Bem, é mesmo. Mas. saindo do campo minado das siglas e abreviaturas, não estamos livres de sustos no ïerreno dos termos de origem estrangeira
Algumas "traduções" são simplesmente adaptações fonéticas. Para aproveitar o embalo, vejamos algumas dessas que poderiam sor "melhor" traduzidas por "acadêmicos" empedernidos (acredite, eles bem que tentaram):
Football Futebol Balípodo ou Ludopédio
Chauffeur Chofer Cinesíforo
Basketball Basquetebol Cestobola
Mais ridículo ainda? Aqui, no Brasil, sim. Mas "futebol", "chofer" e "basquetebol" já passaram da fase de "adaptação fonética" ou de "estrangeirismo" e se incorporaram ao nosso vocabulário, simplesmente por trazerem um conteúdo rico em significado para o nosso povo, que adotou esses termos rapidamente. Deixo ao critério do leitor que teve a paciência de me acompanhar até aqui a "tradução" dos seguintes termos e expressões:
Windsurf - Rollerball - Skate - Bungee Jump - Off Shore - Bodyboard - Quark -...
Note que os termos que se referem a atividades esportivas são maioria nas listas anteriores. São, na verdade, grãos de pólen trazidos de outras flores por abelhas e borboletas operosas e que poderão (ou não) provocar mutações genéticas em nosso idioma
Alguns acreditarão que esse processo pode provocar defeitos congênitos ou adquiridos ao nosso querido Pt-BR. Ledo engano! Nosso falar é forte e saudável, e saberá se defender com seus próprios anticorpos, preservando as mudanças que lhe trazem riqueza e rejeitando todas as demais. Mas esse processo demora um pouco, e expressões novas e estranhas sempre estarão circulando na mídia(***) e na boca do povo, enquanto são lentamente modificadas e absorvidas ou agonizam e perecem por falta de exercício. Já vimos como pululam neologismos esportivos em nossa terra.
Caros companheiros de fala e de idioma, descendentes e herdeiros da Flor do Lácio: deixem que o fruto gerado por essa flor espalhe suas sementes e se multiplique em dialetos e idiomas que retratem fielmente o modo de ser e de falar das gentes que os usam. Cuidem para que cada modo novo de falar e escrever seja uma pequena jóia acrescentada ao seu património cultural. E assim, a Flor do Lácio nunca será a última, mas sim a mãe de muitas outras flores.
NOTAS
(*) Navegando: adoro a expressão "navegar pela Internet". Ela transfere para uma atividade moderna e absorvente todo o significado que lhe foi conferido pelos grandes navegantes portugueses. Também o neologismo "surfar na Internet" carrega uma expressividade toda sua, em que o verbo e sua regência despertam a ideia de uma atividade mais leve, esportiva e voltada para o lazer.
(**) Wikipedia: Confira o "site" pt.wikipedia.org
(***) Mídia: pessoalmente, detesto esse termo, mas parece - ao menos por agora - que esse grão de pólen vai vingar. De fato, a língua se enriquece, pois não temos outra palavra que, com a mesma concisão, contenha todo o significado dessa.
REFORMA ORTOGRÁFICA
Gosto e não gosto. Valeu a queda do trema, pelo menos. Aqueles dois pontinhos não serviam pra nada, mesmo.
Mas pretendo continuar grafando minhas idéias e medéias como sempre. Quanto ao resto, vamos dar tempo ao tempo...